sábado, outubro 21, 2006

Desabafo da alma


Tanta coisa guardada na memória... dias em que fui feliz, outros em que fui infeliz, outros em que me senti desamparada e solitária, outros onde tinha uma alegria imensa... Passamos por tanto na nossa adolescência... é de certeza dos períodos mais violentos da nossa vida. Sim, violentos, a nível psicológico. Talvez não concordem comigo talvez sim... Mas para mim, sim foi violento.
Podemos parecer que sabemos tudo, que somos seguros, mas no meio de tudo, estamos tão desamparados no meio da incompreensão geral da multidão que nos cerca.

Eu queria tanto ter mais liberdade, poder viajar pelo mundo, conhecer novas pessoas, novos lugares, novos conhecimentos... Sair da minha pequena cidade, ver mais pessoas do que as que era obrigada a enfrentar todos os dias. Porquê? Muito simples... Quando viajava sentia-me livre, sentia que era verdadeiramente eu. Poder decidir por mim o que fazer e quando fazer. Eu tinha e sempre tive consciência do que é está bem e do está errado. Sempre tive os meus princípios e nunca abdiquei deles e sempre fiz o que estava certo? Então porquê tantas amarras? Porquê tantos julgamentos?

Bullying... alguma vez ouviram falar? É um fenómeno que acontece geralmente na adolescência nas escolas, quando somos perturbados por uma pessoa ou um grupo de pessoas que nos tratam como se fossemos inferiores. Antes, não sabia que se dava esse nome... agora sei... eu também fui vitima de bullying, como tantos outros. As pessoas não imaginam como quando somos novos podemos ser vulneráveis a fenómenos como este... no meu caso, foi mais no meu 11º ano... era o segundo ano que estava com aquela turma do secundário e davamo-nos relativamente bem. Mas... naquele ano, fui o "alvo" preferido para os gozos das meninas da turma... perceber que era gozada, ver os olhares enquanto "cortavam" e os risos logo a seguir, conseguir ouvir mesmo de longe que falavam de mim... é incrível como a auto-estima se destrói com tanta facilidade... e como demora tanto, tanto a ser reconstruída!

A minha auto-estima foi-se muito abaixo, tornei-me muito insegura sobre as minhas capacidades e de como era a nível físico... Um dia acordei e comecei a chorar... não queria ir para a aulas, não queria ser durante mais um novo dia o alvo de gozo... Os meus pais não perceberam o porquê de eu chorar e eu também não expliquei... Ainda hoje, depois de tanto tempo, ainda sinto vontade de chorar quando penso nisto...
Mas, nesse dia, depois de limpar as lágrimas jurei para mim mesma que nunca mais me iria deixar ir abaixo, que nunca mais iria deixar que destruíssem a minha auto-estima, e que ia tornar-me mais extrovertida e confiante comigo mesma. Na verdade, foi um árduo trabalho, mas aos poucos e poucos fui juntando de novo as peças do puzzle da minha confiança.

Hoje, só me arrependo de me ter deixado ir tão abaixo nessa época... e de resto, faria tudo como fiz, porque fiz simplesmente o que achava certo para mim.
Actualmente, tenho confiança em mim, sei que sou capaz de muitas coisas, que tenho bons amigos, que conheço e vivi coisas que mereci viver, porque lutei por elas, segui o meu instinto.

No essencial, é isso mesmo... não ouçam quando vos deitam abaixo, porque se fazem isso é porque têm menos valor que vocês mesmos...e como têm insegurança deles mesmos, só se sentem bem a deitar abaixo os outros.

Mais um desabafo da minha alma... mais um aprofundar de quem eu sou...

Autor da foto: João Garcia (www.olhares.com/foto10955.html)

2 comentários:

Maria Mar disse...

Bulling essa arma terrivel que actua no silêncio. Muitos sabem o seu mau sabor e poucos como se livrar dele. Marca a ferro fases da nossa vida acabando por deixar cada um de nós alvos dos nossos medos. Como se mata esse medo, essa dor e se acaba com o silêncio? Acho que só crescendo, tendo muita força de vontade e exemplos de amor à nossa volta. Um grande bravo para ti.
Marai Mar

Bruno Armindo Macedo disse...

Lindo...puro e complexo na simplicidade... Adoro a maneira como vês e lês a vida... tens alma de poeta e olhos de mulher...emocoes de amante e atitudes de dramaturgo...continua assim linda que dá gosto ler o que escreves... :) Beijo